17/04/2015 8h03

Dia de Campo apresenta variedades de macaxeira testadas para multiplicação pela Codevasf em Alagoas

Foram testadas quatro variedades da mandioca doce ou macaxeira: Rosinha, que detém a maior produção e maior consumo em Alagoas; Dona Diva; Recife e uma variedade desconhecida

Pesquisador da Embrapa Antônio Santiago apresentou os resultados preliminares do ensaio com as novas variedades de macaxeira

Os resultados preliminares de um ensaio realizado pela Embrapa com o cultivo irrigado de quatro variedades de mandioca doce, conhecida na região Nordeste como macaxeira, foram apresentados em um Dia de Campo no município alagoano de Teotônio Vilela. O experimento testou variedades da mandioca que serão multiplicadas pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) no âmbito do Projeto Reniva – uma rede de multiplicação e transferência de manivas-semente de mandioca com qualidade genética e fitossanitária –, executado numa parceria entre a Embrapa e a Codevasf.

Foram testadas quatro variedades da mandioca doce ou macaxeira: Rosinha, que detém a maior produção e maior consumo em Alagoas; Dona Diva; Recife e uma variedade desconhecida. O ensaio foi conduzido pelo pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros Antônio Santiago, que apontou os critérios utilizados no experimento.

“Nos experimentos nós observamos, inicialmente, o rendimento de raiz das plantas. Essa é uma questão básica em qualquer estudo nosso quando introduzimos um material para testar em determinada região. Além disso, avaliamos também o teor de amido. Isso é muito importante, pois essa substância vai dar sabor na farinha, na goma e em outros produtos da mandioca”, explicou Santiago.

Ele observou que a adaptação e o comportamento frente a pragas também foram monitorados para verificar se os materiais possuem alguma doença ou podridão radicular. “Se eu introduzo dez materiais e tem um que apodrece, esse eu já elimino e não levo para a segunda fase. O cozimento é uma outra questão muito importante, porque o gás de cozinha é caro. Se eu reduzo esse tempo de cozimento, é muito mais vantajoso para a economia da família. Também buscamos identificar qual é a melhor fase de desenvolvimento da planta para a colheita”, ensinou.

Segundo ele, os resultados preliminares do ensaio apontam para que as três variedades de mandioca testadas juntas com a variedade Rosinha apresentam características bem próximas a essa última, que atualmente é a de maior produção e consumo na mesa dos alagoanos.

“A Rosinha é um excelente material, tanto que está há mais de vinte anos sendo produzido em Alagoas. O objetivo desse ensaio é que o produtor não fique dependente apenas de uma variedade. Amanhã ele poderá ter problema com alguma podridão ou doença e isso prejudicar toda a sua atividade. Outro aspecto é que temos em nossa região indústrias de processamento da macaxeira para fins culinários. Essas indústrias precisam de matéria-prima o ano todo, e a há épocas do ano em que a Rosinha não produz com qualidade. Assim, esses três materiais que estamos comparando com a Rosinha possuem, no mínimo, as mesmas características dela”, afirmou o pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros.

A apresentação dos resultados preliminares do ensaio contou com a participação do engenheiro agrícola da Codevasf Kyran Pereira e do assistente técnico em Desenvolvimento Regional da Companhia Cláudio Régis, que coordena as ações do Projeto Reniva na Codevasf em Alagoas.

Régis avaliou como importantes as atividades do Dia de Campo porque o encontro apresentou alternativas para a cultura da mandioca em Alagoas. “O Dia de Campo foi bastante produtivo por apresentar alternativas para o fortalecimento da cadeia produtiva da mandioca no estado. A mandioca de mesa, conhecida como macaxeira em nossa região, surge como possibilidade para salvar a cadeia produtiva do momento difícil que está atravessando em Alagoas. É uma crise em que o preço médio da mandioca, que já chegou a cerca de R$ 1 mil a tonelada, hoje está a R$ 120; temos que achar saídas para a sobrevivência da cultura”, apontou.

Para ele, a introdução, pelo Projeto Reniva, das manivas-sementes de macaxeira selecionadas dará condições aos produtores de mandioca de Alagoas de competirem por mercados consumidores. “Com essas variedades que estão sendo experimentadas, vamos ter condições de conquistar mercados com competividade. O trabalho de pesquisa da Embrapa é extremamente importante. Depois desta etapa, a Codevasf irá trabalhar como multiplicadora das variedades mais apropriadas para a mesa em todo o estado de Alagoas”, afirmou o assistente técnico em Desenvolvimento Regional da Codevasf.

Novos mercados

Segundo o presidente da Câmara Setorial da Mandioca em Alagoas, Eloísio Lopes, o setor enfrenta uma crise causada pela estiagem prolongada e pela superprodução, acima da capacidade de absorção do mercado. Ele entende que um dos caminhos para a mandiocultura em Alagoas seria a busca de novos mercados, que poderá ser facilitada pelo aumento da qualidade da produção local resultado das ações do Projeto Reniva.

“Com a seca prolongada de 2012 e 2013, houve perda diária muito grande e uma elevação dos preços que chegaram perto de 1.000%. Com isso, houve uma produção acima do que o mercado poderia absorver. Hoje, em Alagoas, temos o preço de venda do produto abaixo dos custos de produção, o que desestimula o segmento. Assim, nossa expectativa é de encontrar canais de comercialização desse produto”, disse Lopes.

Ele acrescentou ainda: “Com o trabalho que está sendo feito pelo Projeto Reniva vamos ter uma produção de manivas-sementes de modo que o produtor saberá que está plantando uma espécie adequada e com qualidade, e que poderá atingir o mercado com segurança”.

Para realização das atividades do Dia de Campo, os participantes foram divididos em dois grupos. Entre as questões discutidas na atividade estavam a dispensa correta da manipueira – liquido tóxico originado no processamento da mandioca –, produção de subprodutos da mandioca, diferenciação entre os quatro tipos de macaxeira estudados no ensaio, técnicas de manejo para as variedades, adaptação e resistência a pragas e processo de cozimento e congelamento, entre outros temas.

O Dia de Campo foi promovido pela Embrapa Tabuleiros Costeiros em parceria com as secretarias de Agricultura dos municípios de Teotônio Vilela e Junqueiro – que têm na mandiocultura uma das atividades econômicas mais tradicionais. A atividade contou ainda com a participação de mandiocultores familiares, técnicos da Emater, Fapeal, da Secretaria Municipal de Agricultura de Arapiraca, professores e estudantes do IFAL e da UFAL, Ministério da Agricultura, Sebrae, Câmara Técnica da Mandioca de Alagoas e APL da Mandiocultura.

Projeto Reniva

O Projeto Reniva é uma rede de multiplicação e transferência de materiais propagativos de mandioca com qualidade genética e fitossanitária que tem a Codevasf como executora das ações, em parceria com a Embrapa, e com recursos da Secretaria de Desenvolvimento Regional do Ministério da Integração Nacional (SDR/MI). Ações previstas no Projeto Reniva já se encontram em andamento nos estados de Alagoas, Bahia, Pernambuco, Piauí e Maranhão.

Com o projeto, que integra as ações do Plano Brasil Sem Miséria, o Governo Federal pretende revitalizar a cultura da mandioca na região com a introdução de novas variedades de alta qualidade e pureza, beneficiando somente em Alagoas cerca de três mil famílias de agricultores – muitas delas têm, na atividade, a única fonte de renda e alimentação.

Para participar do projeto, as famílias devem estar enquadradas e cadastradas no perfil de atendimento das ações de inclusão produtiva do Plano Brasil Sem Miséria do Governo Federal, que se destina a famílias em situação de pobreza, com renda per capita familiar mensal de até R$ 77,00. Caso a família não seja cadastrada no Cadastro Único do Governo Federal (Cadúnico), mas se enquadre no perfil do Plano, ela deve procurar a Secretaria de Ação Social do município e solicitar seu cadastramento.

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