28/08/2013 10h45

Alagoano descobre espírito empreendedor após 24 anos cortando cana-de-açúcar

Para cada metro de cana empilhada, após o corte, o trabalhador ganha de 5 a 10 centavos, dependendo do estado da lavoura

Ivanildo da Silva, cansado de manusear a enxada e o facão, resolveu trocar as ferramentas de trabalho e abriu o seu próprio negócio no município de Murici

Assessoria

Acorda às sete horas da manhã e trabalha até as quatro da tarde cortando a maior quantidade de cana-de-açúcar que seus braços fortes e suas mãos calejadas conseguirem. Esta é a rotina de milhares de cortadores de cana durante a colheita em todo o Brasil. Para cada metro de cana empilhada, após o corte, o trabalhador ganha de 5 a 10 centavos, dependendo do estado da lavoura.

Este dia a dia cansativo e esforçado não pertence mais ao alagoano Ivanildo da Silva. Cansado de viver longe da família, aos longos 24 anos em que cortava cana no estado de Minas Gerais, o trabalhador decidiu voltar para a sua terra e tentar algum trabalho mais gratificante.

“Eu chegava a passar nove meses do ano longe de casa, suando e trabalhando para conseguir o pouco que ganhava e ajudar minha família no sustento da casa. Já me sentia cansado e sem toda a força que eu tinha quando comecei a pegar no facão. Foi quando eu pensei em voltar para minha cidade e tentar algo novo”, explicou Ivanildo.

E foi assim que, sem muito se indagar, que o até então cortador de cana Ivanildo resolveu voltar para os braços de sua família no município de Murici, localizado na Zona da Mata Alagoana, a 44 km de Maceió.

Virando empreendedor

Após o seu retorno para a sua cidade natal, Ivanildo da Silva começou a se questionar sobre o que iria fazer para manter-se vivo e alimentar a sua família. Foi quando, em abril de 2010, já casado com a senhora Maria Quinor de Assis, o ex cortador de cana resolveu abrir o seu próprio negócio e deixou como parte de seu passado o trabalho sofrido que realizava em meio às plantações em Minas Gerais.

“Eu pensei em diversas opções para trabalhar, mas eu já tinha notado que aqui em Murici não tinha muitas oficinas de conserto e venda de material para bicicletas. Foi quando eu decidi abrir o meu próprio negócio e encarar o que vinha pela frente pensando no meu futuro”, disse.

Sem nenhuma prática com os novos equipamentos que agora iria manusear, seu Ivanildo encarou a nova rotina como a oportunidade de aprender novas formas de trabalho. “Deu um trabalho no começo porque eu nunca tinha trabalhado com bicicleta, fui aprendendo aos poucos. Tive força de vontade para enfrentar todas as dificuldades que iam aparecendo, mas com o apoio de meus familiares e amigos eu consegui erguer a minha oficina no comercio da cidade”, lembra.

Como todo empreendedor que se preze, Ivanildo passou a trabalhar com muitas coisas novas além da prática com conserto de bicicletas. Formalizado, ele tinha em suas mãos diversos planejamentos para construir. Entender de marketing, vendas e contabilidade eram apenas algumas das técnicas que Ivanildo tinha que aprender. “Quem iria imaginar que hoje, uma pessoa que começou a cortar cana com nove anos de idade iria trabalhar com tantas coisas ao mesmo tempo?”, se perguntou.

Novos horizontes

Em 2012, o empreendedor quis ampliar o seu negócio e passar a atender as demandas de motocicletas, que naquela cidade é um dos principais meios de transporte. “Foi quando conheci a Desenvolve, através do Sebrae, e tive a oportunidade de retirar um empréstimo para comprar materiais para atender os pedidos dos motoqueiros que não tinham locais para consertar suas motos aqui próximo”, destacou.

Com o crédito de R$ 6 mil, efetuado através da linha de microcrédito Desenvolve/BNDES, o dono da oficina Bike Motos realizou a compra de rodas, aros e demais ferramentas para a correção de motos. Embora não tenha tido o sucesso que ele imaginava, viu ali uma chance de buscar novos horizontes ou como ele mesmo disse “tive a oportunidade de ver que o meu negócio realmente é bicicleta. Estou focando nisso para tirar o maior proveito, afinal de contas, temos sempre que pensar positivo e mirar para a frente para chegar onde queremos”.

Faturamento

Aqueles poucos 10 ou 15 centavos que retirava com cada pilha do corte de cana durante toda a sua juventude são apenas lembranças do passado do novo empreendedor alagoano.

Hoje, com o seu empreendimento aberto de segunda a segunda, seu Ivanildo da Silva consegue movimentar na economia local uma média de R$ 500 por dia. E é deste valor que ele e sua esposa sustentam a casa e se projetam para o futuro. “Quero dar uma boa educação para o meu filho e servir de exemplo de que com esforço e dedicação conseguimos o que queremos”, falou.

Ivanildo acredita que ainda tem muita história para contar e que o seu negócio está apenas começando. “Eu sempre dou a dica de nunca deixar que os pensamentos negativos tomem conta porque temos que acreditar na força dos pensamentos”, enfatizou.

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