24/05/2012 14h21

Paralelo 10, de Silvio Da-Rin, estreia amanhã em Maceió

Paralelo 10 é uma incursão em profundidade ao pensamento de um indigenista e à realidade de uma região da Amazônia

 

Paralelo 10 conta a história de uma tribo numa região entre o Acre e o Peru

Paralelo 10, o novo documentário de Silvio Da-Rin, que participou do Festival É Tudo Verdade 2012, tem estreia dia 25 de maio em Maceió, às 17h, no Cine Sesi. O longa documenta a viagem feita por José Carlos Meirelles e Terri Aquino a uma região pouco conhecida do Brasil, Paralelo 10 Sul, no Acre, quase na fronteira com o Peru, região amazônica.

Paralelo 10 é uma incursão em profundidade ao pensamento de um indigenista e à realidade de uma região da Amazônia. José Carlos Meirelles é um dos mais destacados sertanistas brasileiros. Sua atuação na Funai foi decisiva para a implantação da atual política de respeito à escolha dos índios que não querem contatos com não-índios. Ele foi o criador da Frente de Proteção Etnoambiental do Rio Envira, no Acre, próximo à fronteira com o Peru, área do Paralelo 10 Sul.

Em 2010, ao fim de um longo período de afastamento, Meirelles retornou ao alto rio Envira, junto com seu colega de longa data, o antropólogo Txai Terri Aquino. Foram ministrar oficinas e reunir-se com índios aldeados e moradores da região, com vistas a minimizar conflitos e preconceitos com relação aos índios “brabos” que vivem nas redondezas. Paralelo 10 é um river movie que embarca com eles e segue rio acima durante três semanas, colhendo memórias do sertanista e observando a atualidade da questão indígena no Acre.
Sinopse
Mais de um ano e meio afastado do Acre, o sertanista José Carlos Meirelles retorna, em companhia do antropólogo Terri de Aquino, à região do Paralelo 10 Sul, linha de fronteira com o Peru. O filme viaja com eles durante três semanas, subindo o Rio Envira, enfrentando vários tipos de obstáculo e se aproximando cada vez mais das malocas de índios isolados. Nessa jornada, Meirelles rememora experiências, expõe contradições de seu ofício e discute com índios Madijá e Ashaninka a melhor forma de se relacionar com os índios “brabos”, sem tentar amansá-los nem exterminá-los.
Silvio Da-Rin
Foi jornalista no início da carreira e faz documentários desde 1979. Dirigiu 14 filmes e vídeos, vários deles premiados em festivais brasileiros e internacionais, como Fênix (1980), Príncipe do Fogo (1984), Igreja da Libertação (1986), Nossa América (1989) e Hércules 56 (2006). Gravou o som de mais de 150 filmes, entre os quais inúmeros documentários e os longas de ficção Quase Dois Irmãos, Onde Anda Você, Viva Voz, Avassaladoras, Separações, Bellini e a Esfinge, Amores Possíveis, Mauá – o Imperador e o Rei, Amores e Pequeno Dicionário Amoroso. Foi por duas vezes presidente da Associação Brasileira de Documentaristas.
 Em 2004, lançou o livro Espelho Partido: Tradição e Transformação do Documentário, versão revista de sua dissertação de mestrado em Comunicação na UFRJ. Entre 2007 e 2010 desempenhou a função de Secretário do Audiovisual do Ministério da Cultura. Desde maio de 2010, é Gerente Executivo de Articulação Internacional e Licenciamento da EBC/TV Brasil.
Txai Terri Aquino
Coube ao acreano “Txai” Terri Valle de Aquino, antropólogo ligado à Funai, iniciar o trabalho de identificação e reconhecimento de nações indígenas no Acre, há mais de 40 anos. Os índios Kaxinawá viviam então como escravos dos seringalistas. Terri liderou a reivindicação pela demarcação de suas terras, a alfabetização e a criação de cooperativas de produção e consumo. Essa experiência acabou estendida a outras etnias, em busca de autonomia, prosperidade e afirmação cultural.
 A militância de Terri se dá também na imprensa. Seus artigos do período 1975-1980 no jornal acreano O Varadouro denunciaram eficazmente os dramas vividos pelas populações indígenas e seringueiras nos altos rios acreanos.
 Formado em Antropologia Social pela UnB e em Sociologia e Política pela PUC, Terri Aquino já ocupou a chefia da Coordenação de Identificação e Delimitação de Terras Indígenas da Funai. Sua distância crítica em relação às políticas oficiais tornou acidentada sua relação com a instituição. Atualmente, é chefe da Coordenação Geral de Índios Isolados e Recém Contatados.
 Membro fundador da ONG Comissão Pró-Índio (CPI-Acre), é um dos autores do livro Kaxinawá do Rio Jordão (Rio Branco, 1992).
Terri incorporou o prenome “Txai”, que ganhou dos índios do Acre. Na língua kaxinawá, o termo significa “amigo-irmão”.
José Carlos Meirelles
José Carlos dos Reis Meirelles Júnior é um dos maiores sertanistas brasileiros. Ativo na área desde 1970, tornou-se, a partir de 1987, um dos principais mentores da política de preservar o isolamento dos índios não interessados no contato. Essa opção sucedeu às tradicionais posturas de antropólogos e governos, baseadas no contato para “proteger”, “aculturar” e “integrar” os indígenas.
 Meirelles nasceu em Ribeirão Preto e foi criado na pequena cidade de Santa Rita do Passa Quatro (SP), numa família de desbravadores de mato e criadores de gado. Quando jovem, num acidente de caçada, levou um tiro de espingarda no peito.
 Enquanto se recuperava, decidiu abandonar os estudos de Engenharia e se mudar para a capital paulista. Passou num concurso para indigenista da Funai e, após um rápido curso iniciatório, foi enviado ao Maranhão para trabalhar junto aos Urubu-Kaapor e posteriormente aos Awa-Guajá, com quem tinha feito os primeiros contatos.
 Em 1976, Meirelles assumiu a chefia de um posto da Funai no Acre, na região do alto rio Iaco. Ali, entre os índios Manchineri e Jaminawa, ele iria passar dez anos de sua vida. Para retirar os índios do jugo de patrões fazendeiros, Meirelles idealizou e fez aprovar a Área Indígena de Mamoadate, finalmente demarcada como reserva em 1987. Nesse período, o sertanista e seus colaboradores implantaram um sistema de cooperativas indígenas que teve importância decisiva no processo de emancipação das tribos acreanas e de todo o sul da Amazônia.
 Meirelles foi demitido da Funai em 1980, junto a outros companheiros que se opunham à política indigenista ditada pelos militares. Foi readmitido em fins de 1982, prosseguindo em seu trabalho com os índios do Acre. Voltou ao Maranhão com a família entre 1984 e 1986 para localizar e resgatar Awa Guajás “brabos” (isolados) que estavam ilhados nos igapós do rio Pindaré. A partir de 1986, regressou ao Acre, onde passou a trabalhar na proteção aos povos isolados nas cabeceiras do rio Envira, no município de Feijó, de onde parte a expedição vista no filme.

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