10/09/2021 10h16

Com 68,8% dos maceioenses endividados, capital chega ao maior percentual dos últimos 11 meses

São 208 mil pessoas nessa condição e, para auxiliar nas contas, algumas já começaram a usar o cartão de crédito para pagar despesas básicas

Endividamento tem tirado o sono do brasileiro

Mais de 30 mil maceioenses contraíram algum tipo de dívida nos últimos quatro meses. A constatação é da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) realizada pelo Instituto Fecomércio AL, em parceria com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Em agosto, o endividamento chegou a 68,8%, sendo o maior percentual de endividamento dos últimos 11 meses, perdendo somente para agosto de 2020.

Comparado com julho (65,5%), houve um aumento de 3 pontos percentuais (p.p.), o que em números absolutos representa um acréscimo de pouco mais de 10 mil pessoas, saindo de 198 mil para 208 mil endividados.

O percentual de famílias com dívidas em atraso também acompanhou esse movimento de alta: são mais 12 mil inadimplentes nos últimos quatro meses, chegando a 58 mil pessoas nesta situação. Em abril, a inadimplência alcançava pouco mais de 47 mil pessoas. Quando avaliada a variação mensal (julho/agosto), o percentual teve alta de 4,94%, inserindo mais 3 mil maceioenses neste grupo.

O cartão de crédito permanece como o principal fator gerador de dívidas, tendo sido utilizado por 97,8% das famílias na aquisição de bens e serviços. Com 22,5% de uso, o carnê se manteve na segunda posição na modalidade de endividamento, com percentual de 22,5%, mas outros recursos também foram meios de endividamento, a exemplo do cheque especial (0,4%), do crédito consignado (4,9%), empréstimo pessoal (4,6%), prestação de carro (3,8%) e de casa (7,1%).

Observando os dados da pesquisa, o assessor econômico da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Alagoas (Fecomércio AL), Victor Hortencio, diz que todos os indicadores de endividamento (total de endividados, endividados com contas em atraso e os que não têm condições de pagar) estão crescendo de forma sustentada nos últimos quatro meses, aproximando-se cada vez mais dos patamares do mesmo período do ano passado, quando o nível de endividamento foi considerado crítico.

O único indicador que, mesmo crescendo, continua em patamares significativamente inferiores aos do ano passado é o das pessoas que “não terão condições de pagar”, que ficou 54,8% abaixo do volume visto em agosto de 2020, quando 50 mil pessoas declararam não terem condições e nem expectativa de honrarem seus compromissos, enquanto em 2021, somente 22.700 pessoas se encontram nessa fase mais delicada da inadimplência.

“Sem dúvida, uma das possíveis causas do aumento contínuo do endividamento das famílias maceioenses é o cenário econômico de crise visto na economia nacional”, ressalta o economista ao lembrar que o somatório de dólar em alta (R$ 5,27), a inflação bem acima da meta (8,99% no acumulado dos últimos meses), o desemprego batendo recordes nos estados (14,1% no Brasil e 18,8% em Alagoas, segundo o IBGE) e a queda do PIB no segundo trimestre (-0,1) criaram um panorama muito complicado de perda de renda e de poder de compra, queda do investimento e diminuição das expectativas. “Este cenário torna o endividamento inevitável para o consumo de bens essenciais, como os custos residenciais de água e energia elétrica, afetando, principalmente, a população de renda mais baixa”, avalia Victor, acrescentando que a análise da pesquisa indica que o cartão de crédito pode estar sendo utilizado para pagar despesas básicas, não se restringido ao consumo de bens duráveis, como usualmente acontece.

Os endividados passam de três a seis meses (62,1%), gerando um comprometimento médio de 29,7% da renda durante o tempo de parcelamento.

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