27/03/2012 12h44

O vedetismo da crítica

No exercício pleno da cidadania, é direito natural do ser humano a formulação da crítica


Jornalista Marcelo Firmino
Marcelo Firmino *
No exercício pleno da cidadania, é direito natural do ser humano a formulação da crítica. E, óbvio, não haveria vida cidadã se esse direito fosse negado. O ato de criticar pressupõe um elenco de argumentos capazes de contribuir para clarear uma visão de uma partida de futebol, o entendimento de uma teoria, de uma técnica específica, de uma obra de arte, uma concepção de governo, enfim, até de estilo de vida em qualquer parte do mundo. Assim consiste, assim deveria…

A grande questão é que a crítica nos dias de hoje é, com raras exceções, o ato puro e simples de apontar defeitos ou achincalhar o outro ou a obra dele apenas pelo prazer de fazê-lo. Faltam verdadeiramente os argumentos isentos e responsáveis. Quando o “crítico” se manifesta, quase sempre deixa explícito seu interesse contrariado, sua raiva incontida, sua torcida contra e até mesmo seu preconceito. Isso é perceptível nas inúmeras manifestações registradas pela mídia. E até mesmo na mídia – aí salvo pequenas proporções –, percebe-se também um exagerado vedetismo da crítica. E os interesses não são diferentes. Eles estão ali da mesma maneira.

Estamos vivendo um ano bem favorável a todos esses ingredientes. Há uma eleição que se aproxima, e as manifestações de olho nesse processo surgem a todo instante. Cada uma mais apaixonada que a outra. E quando o assunto é governo, estabelece-se no processo a confusão generalizada. Os interesses de toda ordem pipocam. “Critica-se” tudo e de todas as formas. Publique-se uma portaria institucional para mudança de turno e o pau canta. Opine sobre os lírios dos campos e a madeira desce do mesmo jeito. Faça uma obra e aí não há perdão. O cacete come da unha do dedão do pé ao pé do cabelo.

Em se tratando de gestão pública, essa é uma história que não para. E em um ano como este, a tendência é aumentar. As pessoas não estão nem aí para a crítica propriamente dita. Estão, sim, para a necessidade que têm de falar mal de algo, de alguém ou de alguma coisa. Isso virou senso comum, sem o devido senso crítico. No caso em foco, há outro governo por vir, então pau nesse que está pra sair. Simples assim.

Não é exagero. A inauguração da Avenida Márcio Canuto, no Barro Duro, obra da atual gestão da Prefeitura de Maceió, expôs claramente na mídia todo esse rosário de manifestações contundentes. Outras obras virão e sofrerão – criador e criatura – as mesmas intempéries programadas pelos “críticos” de plantão. No caso da avenida citada, ninguém há de negar que há virtudes e há defeitos, mas daí a desconsiderar a importância dela é praticar a intolerância. A situação chega a tal ponto, que há veículo de comunicação que abre espaço para o ataque pessoal, o destempero verbal, a politicagem vazia. E ainda teima que “apenas” está fazendo a crítica.

Aqui ou em qualquer lugar, não haverá realização no mundo sem crítica. Trata-se de um valor inerente à sociedade. Assim, quando um gestor – seja ele prefeito, governador ou presidente – entregar uma obra, se ela não tiver defeito alguém vai colocar. O fundamental seria que o fizessem desprovidos das paixões políticas, movidos realmente pelos mais nobres interesses públicos, pois dessa maneira estaríamos todos valorizando um bem inalienável a que todos temos direito. Mas ingênuo seria quem ousasse esperar tamanha postura no momento em que falar mal de tudo e de todos dá um ibope desmedido e faz bem para o ego dos “críticos”.
* É jornalista e secretário de Comunicação da Prefeitura Municipal de Maceió

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