O presidente da Federação das Indústrias do Estado de Alagoas (Fiea), José Carlos Lyra, aposta no diálogo permanente e transparente junto ao Governo e à sociedade em geral para a construção de uma política de preços justos de energia elétrica que venha a ser indutora do desenvolvimento nacional e, sobretudo, regional. Grandes indústrias, no Nordeste, como Braskem, Ferbasa entre outras, que têm a energia elétrica como insumo principal na cadeia produtiva, estão sendo afetadas pelos desequilíbrios no setor elétrico podendo vir a perder competitividade, o que é danoso à economia local.
A seguir, a entrevista.
VALOR MERCADO – Como a Fiea está se articulando para exigir dos futuros governos (local e nacional) em busca de uma política de preços justos de energia elétrica que não venha travar a produção industrial no Estado?
José Carlos Lyra – Assim como é feito pela CNI [Confederação Nacional da Indústria], buscamos sensibilizar a classe política, por meio de agendas onde expomos a questão e suas consequências para a sociedade. Entendemos que o diálogo, com base em argumentos sólidos e transparência é o caminho para atingirmos o nosso objetivo, que é o desenvolvimento, com mais empregos e justiça social.
VM – Qual a principal reivindicação da indústria no tocante à energia elétrica?
José Carlos Lyra – Existem várias reivindicações. Mas acreditamos que a prioridade deve ser a definição de uma matriz energética nacional de longo prazo, que amplie a oferta e evite o artificialismo de preço como fatores reais de segurança para atração de investimento e melhoria na produtividade e competitividade industrial. Precisamos aproveitar, da melhor maneira possível, a nossa privilegiada situação para gerar energia limpa e barata. E isso tem que ser feito de forma urgente. Conforme a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Brasil precisa contratar 13 GW médios de nova capacidade de geração (garantia física) para atender ao crescimento de demanda até 2023. Por isso, o planejamento da expansão do sistema deve contemplas diferentes regiões do país e segmentos de consumo.
VM - Como adequar a demanda da indústria à baixa oferta de energia elétrica, uma vez que a energia é o principal insumo do processo de produção?
José Carlos Lyra – Temos a necessidade de diversificar a matriz energética como fator de surgimento e desenvolvimento de novas indústrias. A biomassa é uma das alternativas que apoiamos. Também somos ricos em gás natural. É preciso também elaborar estudos e promover a articulação de governo e empresários para que as potencialidades existentes em Alagoas possam ser conhecidas e tornem-se economicamente viáveis para a competitividade industrial. O Brasil possui uma diversidade de potenciais energéticos que podem compor uma matriz segura e sustentável. A Indústria defende ainda a gestão integrada dos recursos hídricos como essencial para garantir que o impacto da redução da vazão de rios seja dividida igualitariamente entre setor elétrico e setores da economia. Ao consolidarmos um sistema de gerenciamento por bacia, é preciso avaliar os efeitos para abastecimento de água, irrigação, piscicultura e hidrovias.
VM - Há risco de o Estado perder alguma indústria por ausência de política competitiva de preço de energia elétrica?
José Carlos Lyra – É fato que a elevação do preço da energia elétrica atrapalha a competitividade da indústria, juntamente com outros fatores como a elevada carga tributária. Além de afetar a competitividade das empresas já instaladas, o alto custo da energia elétrica desestimula a entrada de novos investimentos no Estado. Estamos numa luta que não é só de Alagoas, mas de outros estados do Nordeste, que é a renovação do contrato de fornecimento com a Chesf, a tarifas especiais, de gigantes como a Braskem, Gerdau, Vale, Dow, Paranapanema, Ferbasa e Mineração Caraíba. Essas unidades possuem contratos de energia que totalizam cerca de 800 megawatts médios a R$ 110 mw/h, a vencer em junho do próximo ano. Existe uma apreensão de toda Cadeia Produtiva da Química e do Plástico em Alagoas por causa da Braskem que, por ser uma indústria de base, tendo custos maiores em seus produtos, significa preços mais altos também para as pontas finais da cadeia produtiva.
VM - A MP 579 trouxe desvantagens ou benefícios para o setor industrial?
José Carlos Lyra – A medida beneficia indústria e consumidor, porém, os seus efeitos benéficos vêm sendo anulados por desequilíbrios no setor elétrico, como a descontratação de demanda, que obrigou distribuidoras a comprar energia no mercado à vista, a preços mais elevados, e o esvaziamento dos reservatórios, exigindo o acionamento de todo o parque térmico de geração, desde o fim de 2012. Estes dois eventos geraram despesas extraordinárias para o setor e, como consequência, os custos terão de ser repassados às tarifas de energia até 2015.