11/06/2012 10h00

Cerâmica alagoana utiliza Crédito de Carbono para estimular preservação ambiental

Programa faz parte do Protocolo de Kyoto, que busca diminuir a emissão de gases poluentes na atmosfera

Cerâmica alagoana implanta práticas autossustentáveis no processo de produção

Marcela Sampaio/Sebrae Alagoas

A visão empreendedora do engenheiro Frederico Godim levou a empresa da família ao sucesso. Ele ajudou o irmão e o cunhado a recuperarem uma cerâmica que haviam aberto em Capela, Alagoas, no início dos anos 80, mas que não tinha dado certo, especialmente por falta de mercado consumidor. Pagou as contas, reabriu a empresa e percebeu que através de ações sustentáveis o seu rendimento poderia aumentar. Na terceira matéria da série que destaca micro e pequenas empresas alagoanas que investem nessas ações, conheceremos a história da Cerâmica Bandeira, maior fornecedora de tijolos e telhas do estado.

Tudo começou assim: quando Frederico ainda era estudante de engenharia, seu pai fabricava tijolos manuais. Para desenvolver esse negócio, seu irmão e seu cunhado resolveram abrir uma pequena cerâmica no interior do estado, já que em Capela era possível aproveitar as jazidas de argila existentes. Como a produtividade e o espaço no mercado ainda eram pequenos, não havia capital suficiente para manter a empresa funcionando.

Mas Frederico foi além. Percebeu uma oportunidade de crescimento, assumiu as rédeas da empresa, pagou as contas em atraso, solicitou crédito para investimento junto ao Banco do Nordeste e reabriu a Cerâmica Bandeira, que passou a produzir, além dos tijolos, telhas. E foi com essas telhas que ele conseguiu a patente junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), que garantiu à empresa o direito exclusivo de explorar comercialmente a “telha canal”. Hoje, a produção mensal da empresa chega a 1,7 milhão de tijolos e 500 mil telhas.

Oportunidade

Como todo empresário, Frederico queria ganhar dinheiro, e buscava constantemente novas formas para isso. Foi quando, através de seus círculos de amizade, ele conheceu um italiano que sugeriu que ele participasse do Programa de Crédito de Carbono, uma das ações propostas pelo Protocolo de Kyoto, assinado em 1997 pelos países desenvolvidos, para reduzir a emissão de gases poluentes na atmosfera.

O crédito de carbono é uma espécie de certificado que é fornecido quando há diminuição dessa emissão de gases, que provocam o efeito estufa e o aquecimento global em nosso planeta. Um crédito de carbono equivale a uma tonelada de CO2 (dióxido de carbono) que deixou de ser produzido.

Assim, empresas que conseguem diminuir a emissão de gases poluentes obtêm esses créditos, podendo vendê-los nos mercados financeiros nacionais e internacionais em forma de commodities, ou seja, mercadorias em estado bruto ou produtos primários básicos com grande importância comercial, negociados com preços estabelecidos pelo mercado internacional. Os créditos de carbono, especificamente, são classificados como commodities ambientais.

Para que uma empresa obtenha créditos de carbono, ela precisa ter suas práticas avaliadas por uma Autoridade Nacional Designada (AND). No caso do Brasil, tal autoridade é a Comissão Interministerial de Mudança do Clima; somente após a aprovação pelo órgão é que o projeto pode ser submetido à Organização das Nações Unidas (ONU) para avaliação e registro.

Uma vez aprovado o projeto, a empresa pode vender seus créditos de carbono para os países mais industrializados. Funciona da seguinte maneira: de acordo com o Protocolo de Kyoto, um país desenvolvido, como a Inglaterra, deve diminuir em 5% sua emissão de gases poluentes até 2015; por possuir um processo produtivo mais intenso, a sua emissão de gases é maior do que outros países em desenvolvimento, como o Brasil. Assim, para que ela não descumpra o acordo assinado, ela compra créditos de carbono para ter direito a emitir mais gases, já que outras empresas no mundo estão diminuindo sua emissão.

“O programa de créditos de carbono serve para equilibrar a emissão de gases no mundo. Enquanto algumas empresas trabalham para diminuir a quantidade de poluentes jogados no ar, outras ‘compram’ essa diminuição, porque têm necessidade de emitir mais gases devido ao seu processo produtivo. É lucrativo para nós, que podemos vender créditos, e para o meio ambiente, que sofre menos devido à nossa redução”, explica Frederico.

A avaliação da comissão, refeita anualmente, indicou que a Cerâmica Bandeira deixa de emitir 40 toneladas de CO2 por ano. Por quê? No processo de queima das telhas e dos tijolos, a cerâmica utiliza como combustível matérias primas que seriam prejudiciais ao meio ambiente caso fossem descartadas – pó de serra e casca de coco -, além do bambu e eucalipto, matérias reflorestáveis.

O resíduo de serraria, ou o pó de serra, quando vai para o lixão, apodrece e se transforma em gás metano, que é 21x mais poluente que o carbono. A casca de coco, quando queimada, gera CO2, mas, como o coqueiro não precisa ser derrubado, a própria planta realiza a fotossíntese e consome o CO2 que seria prejudicial à camada de ozônio. O bambu e o eucalipto também são usados como combustível: o primeiro pode ser cortado por infinitas vezes, mas, em todas elas, ele refloresce, também transformando o CO2 em oxigênio; o mesmo serve para o segundo, que só precisa ser replantado após o terceiro corte.

Mas o programa de créditos de carbono exige uma contrapartida de seus praticantes: o dinheiro arrecadado com a venda deve ser investido em tecnologia e ações sociais. “Nós já vendemos nossos créditos para empresas da Inglaterra, França e China, além da Natura, aqui no Brasil. Com o dinheiro ganho, investimos em maquinário e em ações como alfabetização da comunidade, treinamento em liderança, gestão, técnicas de produção e cursos de manutenção para funcionários da empresa. Oferecemos, também, tratamento dentário e oftalmológico para a comunidade. Quanto mais ações sociais praticamos, mais nosso crédito pode valer internacionalmente. Isso é muito bom, porque nos estimula a pensar cada vez mais no bem das pessoas”, complementa Frederico.

Hoje, a empresa de Frederico Godim é praticamente autossuficiente em se tratando de matéria prima para produção. Além de possuir argila suficiente para muitos anos, retirada das jazidas, utiliza seus próprios insumos para queima. Na propriedade do empresário, há plantações de bambus, eucaliptos e coqueiros.

Embora o empresário não cite quanto lucrou desde que iniciou a venda de créditos de carbono, ele afirma que o negócio é um bom caminho. “No início, estávamos muito mais preocupados com o lucro que nossa empresa teria com a venda de créditos de carbono. Hoje, nós já temos consciência do bem que causamos ao meio ambiente, e transmitimos isso a todos os nossos funcionários. Além disso, o mercado já nos enxerga como uma empresa que preza pela sustentabilidade, o que fortalece a nossa marca”, explica Frederico.

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