08/04/2015 10h33

Já começaram na Ilha do Ferro e em Entremontes as oficinas do barco museu No Balanço das Águas

Projeto é mais uma ação do museu Coleção Karandash de Arte Popular e Contemporânea, cuja sede fica em Maceió, na região central da cidade

Rejania apresenta uma das etapas do Bordado Boa Noite

Jorge Barboza/Assessoria

O projeto “Ampliando Saberes”, do barco museu No Balanço das Águas, faz a largada das atividades de arte educativa na comunidade da Ilha do Ferro em Pão de Açúcar e no povoado Entremontes em Piranhas. No alto Sertão alagoano, às margens do rio São Francisco, começaram na última terça-feira, 7, as oficinas de escultura, marcenaria e bordado proposta por mais uma ação do museu Coleção Karandash de Arte Popular e Contemporânea, cuja sede fica em Maceió, na região central da cidade. O projeto – que venceu o edital “Patrimônio Cultural Brasileiro”, da Caixa Econômica Federal – propõe uma série de oficinas para a juventude, conduzidas pelos artistas e artesãos dessas duas comunidades.

Na Ilha do Ferro, os homens (que são pescadores) esculpem trabalhos em madeira e as mulheres tecem o delicado bordado “boa noite” e outros, como o “ponto de cruz”. As bordadeiras de Piranhas se reúnem em cooperativa na bela Casa do Bordado de Entremontes, dedicadas a urdir o conhecido bordado do redendê.

A ideia das oficinas nos dois povoados, segundo os coordenadores do projeto e fundadores do barco museu, o casal de artistas visuais contemporâneos Maria Amélia Vieira e Dalton Costa, é passar às novas gerações as práticas e técnicas (os saberes) do ofício desses exímios artistas populares e artesãos de Pão de Açúcar e Piranhas.

Ambiente do artista instrutor Aberaldo

Reconhecidos em galerias de arte de polos culturais como São Paulo e Rio de Janeiro, e mesmo em países como França, Itália e Alemanha, artistas como Aberaldo, Vieira, Petrônio, Valmir costumam vender seus trabalhos para turistas e colecionadores (o próprio casal Maria Amélia e Dalton, o fotógrafo Celso Brandão, o reitor da Universidade Estadual de Alagoas, Jairo Campos). As obras são esculturas – ou “bonecos” – e objetos utilitários com um designer regional e selvagem – surrealista, por assim dizer.

Cadeiras “fantásticas”, com espaldares de onça ou cobra ou bicho que ninguém sabe o que é, bancos com inscrições aforísticas, mesas que são fortalezas de madeira e raiz. Segundo os artistas da Ilha do Ferro, o material utilizado nos móveis e bonecos é sobra de “queimadas” e raízes encontradas no leito do rio São Francisco.

Os bordados realizados pelas mulheres são outra coisa. Feitos em linho, com linhas coloridas ou simplesmente brancas: panos de prato, caminhos de mesa, guardanapo, pãozeira e uma infinidade de paninhos e toalhas para a cozinha e salas de estar e de jantar.

As técnicas das esculturas e dos móveis de madeira estão sendo repassadas para jovens (e crianças também) pelos mestres Valmir, Aberaldo, Petrônio, Antônio Sandes, Zé de Tertulina e Evânio. A prenda dos bordados, no povoado Ilha do Ferro, está nas mãos de Rejânea e Evânia, que ensinam o ponto típico da região, o “boa noite”; em Entremontes, as bordadeiras da Casa do Bordado de Entremontes repassarão a técnica do redendê.

As oficinas que começaram nesta terça-feira ficaram assim: terças e quintas-feiras, das 14h às 16h, “oficina de esculturas e móveis em madeira”, ministrada por Petrônio, na vizinhança da Ilha do Ferro, num lugar chamado Riacho Grande. Aberaldo e Antônio Sandes ministrarão a oficina de escultura e móveis em outros dois dias da semana. “Aberaldo e Antônio são irmãos. O Aberaldo é muito conhecido e admirado e o Antônio faz umas belíssimas canoas de tolda”, conta Maria Amélia Vieira.

Aos sábados à tarde, outra oficina conduzida por Vandinho e Zé do Tertulina. Os jovens Bedeu e Neto e os veteranos João Tortinha e Ronalço serão monitores. Na oficina de Petrônio, o filho dele, Yan, também terá a função de monitor.

“Acreditamos que os alunos participantes, jovens das comunidades escolhidas, em pouco tempo serão os agentes culturais que atuarão como multiplicadores das ações, ampliando seus saberes para as novas gerações”, afirma a artista. Maria Amélia e Dalton Costa, a bordo desse notável barco museu No Balanço das Águas, pilotam projetos de arte-educativa na região do baixo São Francisco desde o ano de 2008.

A lúdica embarcação, que se encontra, ainda, no ancoradouro de Pão de Açúcar, funcionará como galeria ao final das oficinas no dia 30 de maio.

Barco Museu em reforma para navegar pelo rio São Francisco

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