Há pouco tempo, o cenário era bem diferente e o sentimento entre os moradores também. Do alto, de onde hoje existem as escadarias de entrada para a grota da Macaxeira, em Chã da Jaqueira, Zefinha Bezerra olhava com tristeza para o lugar onde mora há mais de 20 anos. É que de lá, a visão não era das melhores: os caminhos sempre irregulares, o chão de barro tomado pela lama e boa parte das casas com grande risco de ter seu teto desmoronado.
Se da porta das residências para fora a experiência já era difícil, era no cotidiano das famílias que as carências em infraestrutura se tornavam ainda mais presentes. Telhas desgastadas, madeira apodrecida, piso de terra batida, goteiras em vários pontos da casa e paredes sem pintura eram só alguns dos problemas rotineiros dos moradores das comunidades mais carentes de Maceió.
“Imagine vinte anos sem ter acesso a um espaço de qualidade para viver e sem poder proporcionar isso para os meus filhos. Fazia até medo entrar aqui. Eu mesma já caí várias vezes andando pela comunidade, porque os caminhos sempre foram muito estreitos e perigosos. Agora tudo mudou e garanto que não tem alegria maior do que ver minha casa reformada e ter meus netos brincando e correndo por aí sem preocupação”, conta a dona de casa, Zefinha Bezerra.
A mudança em infraestrutura vivenciada pelos moradores da grota da Macaxeira e outras 46 comunidades da capital só foi possível graças ao programas Vida Nova nas Grotas, do Governo de Alagoas, em parceria com o programa das Nações Unidas para Assentamentos Urbanos (ONU-Habitat). Juntas, as ações vêm transformando, pela primeira vez, as condições de infraestrutura, mobilidade e moradia dos habitantes.
Só nos deslocamentos nas comunidades, a Secretaria de Transporte e Desenvolvimento Urbano (Setrand) lidera a implantação de diferentes equipamentos urbanos como escadarias drenantes, pontilhões, canaletas, passeio, corrimão e muros de contenção nas áreas identificadas com maior risco. Para os períodos de chuva, foram construídos, preventivamente, canaletas para escoar a água acumulada e também meios-fios.
Dentro de casa
Do lado de dentro, as moradias também começam a receber atenção específica e individualizada. Por meio de ações da Secretaria de Estado de Infraestrutura (Seinfra), inicialmente as casas da grota da Macaxeira, onde mora dona Zefinha, já estão recebendo pequenas reformas e reparos nos telhados e melhoramento das estruturas dos banheiros, cozinhas e também tratamento de infiltrações.
Entre as 24 residências que foram beneficiadas até o momento com as atividades de reestruturação – serão 2 mil até o final do programa – a família Gomes é uma das que já experimentam as mudanças. Na hora de escolher o que mais preocupava em casa, Luiza não teve dúvidas. O telhado totalmente danificado que, de tempos em tempos, enchia os cômodos de goteiras e ameaçava cair todos os dias.
“Nossa rotina era assim, meu marido consertava um buraco e na mesma hora já abria outro em um lugar diferente no teto. Quando chovia, isso aqui virava um lameiro danado, a gente ficava só esperando a hora de arriar tudo na nossa cabeça. Agora a moradia tá outra, né? Chega tenho orgulho de dizer que moramos aqui. Eu me sinto bem mais segura dentro e fora de casa. Só tenho a agradecer”, ressalta Luiza Gomes.
+ parceria com a ONU
Acreditando nos resultados positivos que já vinham sendo conquistados pelo Vida Nova nas Grotas, o programa ONU-Habitat firmou, em 2017, uma parceria com o Governo de Alagoas a fim de cooperar com as ações. O escritório foi inaugurado em outubro e funciona como um núcleo de implementação do projeto “Prosperidade Urbana Sustentável e Inclusiva no Estado de Alagoas: Uma Iniciativa Integrada”.
Instalado na Secretaria de Estado do Planejamento, Gestão e Patrimônio (Seplag), o escritório tem como intuito principal a produção de dados qualificados e diagnósticos para uma melhor compreensão dos espaços urbanos de Maceió, com ênfase nos assentamentos informais da capital alagoana. A expectativa é que, em breve, novos relatórios e mapas georreferenciados sobre as comunidades sejam entregues e possam ser incorporados à base de dados do Estado.
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