25/06/2015 15h37

Peixamentos da Codevasf trazem de volta matrinxã às águas do Baixo São Francisco

A boa notícia também já é de conhecimento de pescadores da região

Pescadores da Colônia de Pescadores Z-35 voltaram a capturar a matrinxã no Baixo São Francisco

A matrinxã, uma espécie de peixe nativa da bacia hidrográfica do “Velho Chico” há décadas desaparecida no Baixo São Francisco, voltou a ser capturada na região após três anos seguidos de peixamentos realizados pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). É o que aponta o monitoramento de espécies de peixes executado por técnicos do Centro Integrado de Recursos Pesqueiros e Aquicultura de Itiúba no trecho entre os municípios de Porto Real do Colégio, em Alagoas, e Propriá, em Sergipe. A boa notícia também já é de conhecimento de pescadores da região.

Evaldo Silva é pescador há 42 anos no município de Porto Real do Colégio, às margens do rio São Francisco. Desde que iniciou as atividades, nunca tinha pescado o peixe. Ele somente conhecia a espécie a partir da venda desse pescado que vinha de outras regiões da bacia do São Francisco, como o alto e o médio São Francisco.

“Eu só conhecia a matrinxã quando ela vinha de lá de cima, da região de cima do rio, e vendia na banca de peixe. Eu pescava, mas já não tinha desse peixe no rio. Agora, desde o ano retrasado, ela está aparecendo. De dois anos para cá, é a primeira vez que vejo”, relatou Silva.

O presidente da Colônia de Pescadores Z-35 de Porto Real do Colégio, Lealdo Vilela, pesca desde criança no rio São Francisco e não conhecia a matrinxã. Após passar um período morando fora de Alagoas, ele voltou ao estado natal e há 16 anos retornou à pesca artesanal. Agora comemora os resultados dos peixamentos realizados pela Codevasf e pede que ação seja ampliada.

“O relato que temos aqui na região sobre a matrinxã é que poucas pessoas conhecem esse peixe. Tanto que alguns pescadores mais velhos confundiram esse peixe com outras espécies. Daí a importância dos peixamentos é grande para nós pescadores, pois nós necessitamos de várias espécies no rio. Quando um pescador captura um peixe nativo aqui de nossa região, a alegria é imensa. Por exemplo, se a gente conseguisse capturar um pintado. Então, como presidente da Colônia, sempre solicitamos peixamentos e somos atendidos”, disse Vilela.

Josafá Batista também é pescador artesanal e secretário da Colônia de Pescadores Z-35. Como os outros colegas de pesca, ele também não conhecia a matrinxã. “Desde a época que comecei na pesca nos anos de 1970, esse peixe já não existia em nossa região. Não temos conhecimento da matrinxã no rio São Francisco. Hoje, segundo informações de alguns pescadores, eles estão capturando alguns exemplares”, afirmou.

Em sua avaliação, os peixamentos realizados pela Codevasf são a garantia de aumento na quantidade e variedade de espécies nativas no rio São Francisco. “Hoje os peixamentos são da maior relevância, não somente para o retorno da matrinxã, mas de outras espécies que hoje já não existem mais no rio. Assim, o rio depende muito dos peixamentos, pois não temos mais uma vazão capaz de fazer com que as espécies se reproduzam normalmente. Daí a importância desse trabalho da Codevasf de repovoamento. Hoje percebemos uma quantidade maior de espécies nativas, como a xira e o piau. A xira estava quase extinta em nossa região. Após o trabalho da Codevasf de peixamento, em parceria com as colônias de pescadores e associações, já vemos essas espécies retornando a nossa região”, comemorou Batista.

Segundo o engenheiro químico Marcos Vinícius Teles, que coordena a equipe do projeto da Codevasf de monitoramento de espécies de peixes no Baixo São Francisco, para iniciar o trabalho de repovoamento com a matrinxã foi necessário importar a espécie de outras regiões da Bacia Hidrográfica do São Francisco.

“Com o barramento do rio São Francisco, as espécies de piracemas são as primeiras a desaparecer e a matrinxã está entre essas espécies. Como aqui no Baixo São Francisco não havia mais a espécie, tivemos que trazer dos centros integrados de recursos pesqueiros e aquicultura da Codevasf em Xique-Xique (BA) e de Três Marias (MG) as matrizes que seriam utilizadas na produção dos alevinos utilizados nos peixamentos no rio São Francisco”, contou Teles.

Ele completa que desde o início dos trabalhos de monitoramento em 2009, não havia ocorrido a captura de nenhum exemplar da matrinxã e que o retorno da espécie às águas do Baixo São Francisco representa uma satisfação para a equipe da Codevasf que trabalha para o repovoamento do “Velho Chico”. “Nosso foco e nossa satisfação é ver a manutenção da biodiversidade e dos recursos pesqueiros. A recomposição da ictiofauna é muito importante não somente para o meio ambiente, mas também para a população ribeirinha e pescadores”, comentou.

Para o chefe do Centro Integrado de Recursos Pesqueiros e Aquicultura de Itiúba, o engenheiro de pesca Álvaro Vasconcelos, o retorno da matrinxã ao Baixo São Francisco indica que a Codevasf está no caminho certo no trabalho de revitalização.

“Há uma grande expectativa gerada quanto aos resultados dos peixamentos da Codevasf no rio São Francisco. Com esses resultados do estudo de monitoramento, a Codevasf, por meio dos seus centros integrados de recursos pesqueiros e aquicultura, cumpre seu papel no repovoamento da bacia hidrográfica, contribuindo com a revitalização do rio São Francisco”, declarou Albuquerque.

Matrinxã

A matrinxã, cujo nome científico é Brycon orthotaenia, é uma espécie de peixe nativa da bacia hidrográfica do rio São Francisco, que, atualmente, encontra-se ameaçada de extinção. Para se reproduzir, a espécie necessita realizar grandes migrações como estímulo natural à ovulação. No entanto, devido aos barramentos ao longo do rio São Francisco, a espécie não consegue mais realizar a piracema no Baixo São Francisco e praticamente desapareceu da região.

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