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A seca que fez disparar o preço da farinha de mandioca e o peso dos alimentos para as famílias pobres pressionaram a inflação nas regiões metropolitanas do Nordeste.
Comerciantes e consumidores já sentem no bolso essa conjuntura. A aposentada Lóide Soares, 52, vive no Recife e diz que praticamente parou de comer carne.
“Subiu tudo. Compro carne só quando dá. Peixe é para comer [por questão de saúde], mas está sempre aumentando. Vivo na ponta do lápis”, diz ela, que gasta R$ 60 em alimentos a cada 20 dias.
O comerciante José Valdomiro Alves, 33, sofreu com a alta da farinha. Ele vendia o quilo a R$ 3 até dezembro. No Natal, subiu para R$ 5. “Dizem que foi a seca.” O preço espantou o consumidor.
Alimentos pressionaram a inflação em Recife, segundo o IBGE. De janeiro a agosto, a taxa ficou em 4,27%, acima do IPCA (3,43%). O grupo alimentação e bebidas subiu 7,51%, maior variação de todas as regiões pesquisadas.
Para alimentação em casa, a alta foi ainda maior, 6,71%, sobretudo com o avanço da mandioca (30,75%) e da farinha de mandioca (56,25%).
O cenário é parecido em Fortaleza, onde a inflação superou o IPCA acumulado no ano, com taxa de 3,66%. Em Salvador, o grupo subiu 6,6%.
Para Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE, o peso maior dos alimentos na cesta de consumo das regiões metropolitanas do Nordeste é fruto da renda mais baixa dessas áreas. Quanto menor o rendimento, maior o comprometimento com comida.
Luiz Roberto Cunha, professor de economia da PUC-Rio, destaca que a seca mais intensa em 60 anos reduziu a oferta de mandioca e de outros alimentos. No caso da alimentação fora de casa, afirma, pesou ainda o turismo.
O IBGE não pesquisa preços fora da região metropolitana do Recife, mas no agreste a alta também foi sentida.
A seca e o calor inflacionaram até a água em tonéis puxados por jumentos. Em 2012, a dona de casa Luciene da Silva comprava 400 litros a R$ 60. Hoje, esse tonel custa R$ 100.