26/10/2015 9h45

Estado aposta na diversificação da cultura da soja para fortalecer agronegócio

400 hectares estão sendo cultivados com soja para viabilizar a produção de grãos no campo

Cultivo de soja se expande no Estado

Rafaela Pimentel/Agência Alagoas

A diversificação produtiva das áreas rurais de Alagoas vem ganhando novas alternativas de plantio para o desenvolvimento econômico do estado. A expansão da cultural de grãos, em especial, as variedades produtivas da soja é uma das grandes apostas do Governo de Alagoas que, por meio da Secretaria de Estado da Agricultura (Seagri), tem investido no fortalecimento produtivo das regiões interioranas. O segmento surge como importante fonte de renda para os produtores, sobretudo, no atual contexto de crise do setor sucroenergético.
Os avanços do plantio da soja são expressivos e já são percebidos tanto na expansão dos espaços beneficiados com o cultivo, que atualmente englobam mais de 400 hectares entre os municípios de São Miguel dos Campos, Teotônio Vilela, Campo Alegre, Junqueiro e Porto Calvo, como no crescimento da capacidade de exportação dos produtores rurais. Desde setembro deste ano, o Estado de Alagoas comercializa os grãos para outros países, como Rússia, ampliando a presença do segmento do agronegócio do Estado para diferentes regiões.

Inaugurando esse novo campo de negócios em Alagoas, o empresário Everaldo Tenório atraiu a atenção de grandes dirigentes estrangeiros para Campo Alegre. Com uma área de 67 hectares plantados com soja não transgênica, Tenório elevou o valor agregado do seu produto, garantindo, pela primeira vez, a exportação da soja oriunda de terras alagoanas para a Europa.

“Com a crise do setor da cana-de-açúcar, enquanto produtor rural, precisei buscar alternativas para diversificar minha produção no campo. Pensando em uma saída viável, destinei parte da terra, que antes era voltada apenas para o segmento da cana para a produção da soja. Foi uma experiência muito positiva, em um ano conseguimos colher e exportar o produto para várias regiões. Por isso, posso dizer que hoje vale a pena produzir soja em Alagoas”, avalia Everaldo Tenório.

A safra inicial de 40 sacas por hectares já projeta o Estado dentro da média de produção nacional. A expectativa do produtor é que para o próximo ano, os resultados cresçam em 25%, aumentando para 50 o número de sacas de soja por hectare no município de Campo Alegre.

Para Everaldo Tenório, o investimento no plantio do grão trouxe grandes transformações para a região, elevando a sua participação produtiva para outros países. “Fomos o primeiro a negociar com grupos de investidores da Europa, conseguimos vender cada saca de soja por cerca de R$ 90, o que é um valor muito bom. Vamos continuar trabalhando para melhorar nossa produtividade no segmento da soja em Alagoas”.

O município de Porto Calvo foi o segundo a entrar na rota de exportações. Á frente da área de 40,7 hectares, o empresário Ormindo Uchôa e seu filho Sérgio Papine se preparam para levar sua produção, de volume ainda não calculado, para fora do Brasil. Contudo, mesmo com o crescimento da participação do grão na economia alagoana, a cultura não tem o intuito de competir com a cana-de-açúcar, como explica Papine.
“Nossa proposta é ir além. Queremos não apenas diversificar a cadeia produtiva no Estado, como também proporcionar a renovação do solo junto com a complementação da colheita. Isso vai funcionar como uma alternativa para não dependermos de uma única cultura evitando, assim, mão de obra ociosa”, destaca o empresário.
Mais do que reduzir os custos com mecanização, quando se fala na questão financeira, Porto Calvo também se beneficia em virtude da sua localização. Situada na região norte do Estado, o município tem precipitação em torno de 1800 a 2000 milímetros, permitindo condições de colheita de até duas safras por ano – uma de soja e outra de milho.
Segundo Sérgio Papine, essas transformações garantem avanços importantes no setor do agronegócio. Com a colheita de duas safras por ano, a produção de soja na região norte alcança resultados que chegam acima da média nacional.

“Pela primeira vez vamos exportar a soja para outros países. Somos agraciados por haver um terminal de cargas próximo no estado de Sergipe, isso não acontece com nenhuma outra plantação de soja do Brasil”, ressalta.

Apesar de atualmente estarem destinadas à exportação, os plantios de soja no município de Campo Alegre e Porto Calvo apresentam finalidades diferentes. No primeiro, a soja produzida é voltada para a alimentação humana e animal; já no Litoral Norte de Alagoas, o grupo empresarial é focado no mercado de sementes para o Norte e Nordeste do Brasil.
Atrativos e vantagens
Embora o setor de agronegócios tenha apresentado um importante progresso para a interiorização do desenvolvimento no Estado, Alagoas ainda importa praticamente toda a soja que consome e mais de 80% do milho. Para mudar essa realidade, o Governo do Estado investe na rotação de cultura soja-milho, absorvendo as diferentes potencialidades das áreas. Apesar de se tratar de monoculturas, a implantação dos segmentos produtivos trouxe ganhos expressivos para a produção econômica da região rural de Alagoas.
Mas não foram apenas os benefícios financeiros que levaram o Governo do Estado a apostar na produção de grãos. Os aspectos ambientais assegurados pela cultura da soja em relação a outros plantios também foi um atrativo para a escolha do desenvolvimento do setor. A produção de cana-de-açúcar, por exemplo, exige uma adubação nitrogenada do solo, que é realizada através de máquinas que queimam o combustível fóssil. A soja aparece para otimizar esse processo, fixando o nitrogênio do ar, reduzindo os custos e gases responsáveis pelo efeito estufa.
De acordo com o assessor especial da Secretaria do Estado da Agricultura (Seagri), Edson Maruta, o plantio da soja reduz os gastos com importação dos adubos nitrogenados.
“Por se tratar de uma leguminosa, a soja tem uma simbiose com a colônia de microorganismo, sendo capaz de extrair elementos químicos do ar como o nitrogênio, que é um adubo muito utilizado em culturas tradicionais, a exemplo do milho e a cana-de-açúcar. A soja atua como uma espécie de adubação orgânica, que quando alternada com outros plantios traz benefícios ambientais e econômicas para a região”, esclarece.
Outra vantagem apontada por Maruta é a antecipação do período de plantio em relação ao grande cerrado do norte-nordestino, que compreende os estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Essa medida abre um horizonte para Alagoas ser multiplicadora do fornecimento de sementes para outras regiões, corrente que já começou a ser vislumbrada por alguns empreendedores como possibilidade para tornar o Estado fonte de soja para outros lugares do país.
Somado a isso, a proximidade de colheita entre diferentes regiões também ajuda logisticamente no processo de replantio. “A semente de soja perde o poder de germinação em um período curto de tempo, no máximo dois meses. O armazenamento resulta em muitos gastos, então quanto mais perto forem os intervalos entre as colheitas melhor”, destaca o assessor especial da Seagri.
Estudos da Cultura
Em setembro deste ano, a Secretaria de Estado da Agricultura divulgou os resultados dos primeiros estudos, realizados em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), sobre as variedades mais indicadas para plantio de milho e soja no Estado. Dentro do Programa Estadual de Incentivo à Produção de Grãos, as duas culturas receberam destaque enquanto alternativas mais viáveis para a diversificação econômica dos produtores rurais de Alagoas.

Na oportunidade, o plantio da soja em Alagoas foi avaliado como segmento economicamente viável, conseguindo trazer ainda benefícios para a cana-de-açúcar a partir da renovação do solo.

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