21/06/2014 7h05

Pacote tecnológico de cajucultura da Codevasf beneficia mil famílias do semiárido alagoano

Investimento de cerca de R$ 3,2 milhões pretende fortalecer cadeia do caju em Alagoas

Cajucultura é estratégia do Plano Brasil Sem Miséria para inclusão produtiva no semiárido alagoano

 

Um pacote tecnológico formado pelo uso de mudas de caju anão precoce melhoradas geneticamente e de hidrogel é a aposta da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) para estruturar e inserir famílias em situação de pobreza na cadeia produtiva da cajucultura no semiárido alagoano. A ação faz parte do Programa de Desenvolvimento Sustentável da Cajucultura no Estado de Alagoas e deve beneficiar cerca de mil famílias – que poderão produzir até 1,2 tonelada de castanha e 9 toneladas do pseudofruto, o caju, por hectare no período de um ano após a estabilização da cultura.

O programa – que integra as ações de inclusão produtiva do Plano Brasil Sem Miséria – consiste no cadastro, na seleção e na capacitação de pequenos produtores, visando fornecimento, transporte e distribuição de mudas para implantação de novas áreas. Estão sendo investidos cerca de R$ 3,2 milhões, oriundos de destaque orçamentário da Secretaria de Desenvolvimento Regional do Ministério de Integração Nacional (SDR/MI).

Segundo o engenheiro agrícola da Codevasf Kyran Pereira, coordenador da ação, o objetivo é fortalecer a cajucultura em Alagoas a partir do uso do pacote tecnológico composto por mudas de cajueiro de uma variedade adaptada ao semiárido nordestino e de uma inovação: o hidrogel.

“A variedade que está sendo utilizada é o clone CCPO76 produzido pela Embrapa. Esse clone possui como característica a precocidade, que faz com que a planta produza em menor tempo em comparação com outras variedades. Além disso, a planta possui uma padronização da castanha e do pedúnculo, conhecido como caju, o que facilita a comercialização da castanha para indústrias de beneficiamento e do pedúnculo in natura. Outro diferencial será o uso do hidrogel – um gel que hidrata as raízes das plantas de forma regulada a partir das necessidades hídricas – aumentando a pega das plantas, o que a torna propicia para cultivo na região do semiárido”, explicou.

Ainda de acordo com o engenheiro agrícola, a execução do programa contempla a identificação de famílias com aptidão e com área disponível para cultivo dos cajueiros; o cadastramento das famílias por georreferenciamento, observando os critérios do Plano Brasil Sem Miséria; a capacitação das pessoas cadastradas; e o repasse dos kits produtivos, que, além dos clones CCP076 e do hidrogel, são compostos por insumos, como adubo e calcário.

“Já temos equipe no campo realizando os trabalhos de identificação, cadastramento e capacitação das famílias. Após a capacitação, cada família receberá cerca de 240 mudas de caju anão precoce por hectare para cultivo em uma área padrão de dois hectares”, afirmou Pereira.

Para participar, o agricultor deve atender a alguns critérios, como estar no Cadastro Único de Programas Sociais do governo federal (CadÚnico), ser caracterizado como agricultor familiar comprovado por meio da Declaração de Aptidão ao Pronaf, ter disponível uma área cercada de um a dois hectares de terra, entre outros. Também deverá ser dada uma contrapartida da família com a escavação das covas para implantação das mudas de caju anão precoce e a condução da cultura.

Até o momento, as ações da Codevasf para estruturação da cadeia produtiva da cajucultura chegaram aos municípios de Delmiro Gouveia, Piranhas, Olho D’Água do Casado, Água Branca, Inhapi, Igaci, Pão de Açúcar, Estrela de Alagoas, Olho D’Água das Flores, São José da Tapera, Major Izidoro e Jaramataia. Em todos esses, já há famílias cadastradas e capacitadas para receber os primeiros kits produtivos.

Como deve haver espaçamento entre as mudas de cajueiro, a Codevasf está estimulando as famílias a usarem as áreas para outras produções agrícolas. “Estamos repassando orientação técnica para que o espaçamento de 49 metros quadrados entre as mudas seja utilizado para cultivo consorciado com outras culturas, a exemplo da mandioca. Essa também é uma solução que permitirá que as famílias retirem renda da terra enquanto esperam o prazo de até três anos para estabilização do cultivo do caju”, informou Kyran Pereira.

Opção de renda

Jaramataia, localizado no sertão de Alagoas, é um dos municípios beneficiados com o projeto executado pela Codevasf para estruturação da cadeia produtiva do caju. Até o momento, já foram cadastradas quase cinquenta famílias.

O secretário de Agricultura e Meio Ambiente de Jaramataia, Queops Barbosa, revelou que a atividade econômica rural tradicional no município é a criação de gado para produção leiteira, mas que esta foi bastante abalada pela última estiagem prolongada. No entanto, ele aposta que a cajucultura poderá melhorar a qualidade de vida da população com o aumento da renda.

“A estruturação da atividade será de extrema importância para a população de Jaramataia, tão sofrida e pobre. A renda de nosso produtor de leite caiu muito por conta da seca, que foi devastadora. O preço dos insumos cresceu bastante e o valor recebido pelo leite não acompanhou esse aumento. Não se tem água e nem alimento para o gado. Praticamente, eles estão sem renda. A chegada da cajucultura é uma saída para essa situação, uma esperança. Vamos tentar fazer dela nossa nova fonte de sobrevivência”, relatou o secretário de Agricultura e Meio Ambiente de Jaramataia.

Cadeia produtiva

Um dos objetivos do programa executado pela Codevasf é a estruturação da cadeia produtiva do caju no semiárido alagoano. Segundo o engenheiro agrícola da Codevasf Kyran Pereira, pelo menos quatro unidades de beneficiamento de castanha e de caju na região estão praticamente paradas por falta de matéria-prima ou com baixa produção.

A Associação de Produtoras de Doces Casadenses, que fica no município de Olho D’Água do Casado, é um exemplo da escassez de matéria-prima. Na unidade de beneficiamento da associação, as doceiras utilizam a castanha e o caju para produção de doces, como o caju em calda e as passas de caju.

A organização reúne cerca de dez associadas, que cultivam caju cada uma em suas terras. Mas segundo a presidente da associação, Maria dos Prazeres da Silva, como esses cajueiros são nativos da caatinga e estão há muitos anos ativos, eles não suportaram a última estiagem prolongada e não estão mais produzindo a ponto de atender a demanda da unidade.

As doceiras estão bastante ansiosas para iniciar o cultivo do caju com o pacote tecnológico disponibilizado pela Codevasf e esperam um incremento na renda das associadas. Para isso, já foram cadastradas e capacitadas pela Codevasf.

“No final do ano passado, trabalhamos com alguns cajueiros anão precoce e eles produziram bem, diferente do cajueiro nativo que não deu caju. Quando a Codevasf chegou aqui com esse projeto, eu fui uma das mais animadas. Será um ótimo benefício para as famílias porque trará uma boa renda. Queremos plantar esse ano e já estamos esperando as mudas. E não precisa nem de tanta chuva, pois será usado um gel que estamos todas curiosas para ver como será. Como o gel protege as mudas da falta de água, isso será uma benção”, adiantou a doceira de Olho D’Água do Casado.

Já no município de Olho D’Água das Flores, também no sertão de Alagoas, a situação é mais difícil. Na unidade de beneficiamento de caju e castanha da Associação dos Produtores de Caju do Povoado Areias falta matéria-prima. Atualmente os associados não possuem produção, pois os cajueiros da associação estão com baixa produtividade. No momento, a unidade beneficia apenas castanha de um produtor da região da zona da mata alagoana, que contratou a unidade para o serviço.

Segundo o presidente da associação, Antônio Miguel, a unidade de beneficiamento possui capacidade de beneficiar até 500 quilos de castanha por dia. Ele está esperançoso de ter uma produção própria de caju dos associados que promova a geração de renda para as famílias da comunidade.

“Se a gente tiver um caju compatível com a nossa terra, acredito que esse cultivo dará certo. Estamos esperando que tenhamos um futuro. Como diz uma história, teremos uma estrela brilhosa em nosso trabalho. Vamos trabalhar para fortalecer nossa produção”, declarou.

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