07/10/2013 8h06

Programa Balde Cheio ajuda produtores rurais a superar longa estiagem e aumentar a produção de leite

Nordeste enfrentou as maiores secas dos últimos 50 anos no Brasil no período de 2012 e 2013

Produtores rurais em visita de campo

Marcela Sampaio/Sebrae-AL

Em 2012 e 2013, o Nordeste enfrentou as maiores secas dos últimos 50 anos no Brasil. Ao todo, cerca de 1.400 municípios foram afetados, de acordo com balanço do Governo Federal. Mas, em meio a tantas dificuldades, produtores alagoanos conseguiram passar por esse período sem prejuízos e até com produtividade aumentada. O sucesso foi alcançado por meio do Programa Balde Cheio, uma metodologia que visa transferir tecnologias adaptadas para o desenvolvimento da pecuária leiteira em propriedades familiares.

Nos dias 1, 2 e 3 de outubro, a Secretaria de Estado da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário (Seagri), o Sebrae Alagoas e a Cooperativa Agropecuária de Produtores de Leite Familiar da Bacia Leiteira de Alagoas (Coopaz), parceiros do programa, organizaram junto à equipe da empresa Fazenda Eficiente, composta por técnicos que atuam diretamente com os produtores, o 1º Dia de Campo Balde Cheio.

O objetivo das visitas, que foram realizadas nas Fazendas Cruzeiro (Paus Pretos – Monteirópolis) e Trapiá (Baixas – Jacaré dos Homens), nessa terça-feira (1); nas Fazendas Esperança (Patos – Poço das Trincheiras) e Padre Cícero (Gravatá – Cacimbinhas), nesta quarta (2); e na Fazenda Olho D’Água Novo (Belo Monte), nesta quinta-feira (3), é que as experiências exitosas das unidades demonstrativas do Programa Balde Cheio, especialmente no período da seca, fossem compartilhadas com os produtores de cada região.

De acordo com Sidnei Bezerra Lima, zootecnista, consultor e coordenador do Balde Cheio pela Fazenda Eficiente, o processo de implantação da metodologia vem de uma demanda das associações, cooperativas ou dos próprios produtores, que demonstram interesse no trabalho. Depois de apresentar o programa na comunidade, a adesão de cada produtor é livre. Para participar, basta cumprir as normas do programa e seguir as orientações dos técnicos.

“O início do trabalho demanda sensibilização e muita dedicação, porque o programa representa, muitas vezes, mudanças na cultura do produtor. Eles têm que modificar o que fazem há anos, desde outras gerações, já que mostramos que aquilo não funciona mais, que há outros meios mais eficientes, econômicos e lucrativos de produzir”, explica Sidnei.

Etapas

Ainda de acordo com Sidnei, o Programa Balde Cheio é dividido em quatro fases, desenvolvidas em quatro anos. O primeiro ano é marcado pela implantação de controles e produção de comida para o rebanho. É nesse primeiro passo que o produtor aprende a cultivar palma e pastagem e fazer o processo de silagem (por meio de fermentação anaeróbica, milho e sorgo são armazenados para serem utilizados como alimento para as vacas no período da seca).
Nessa fase inicial, o produtor também faz seu planejamento a curto e longo prazo, que representa o que ele alcançará naquele ano e, depois, aonde ele quer chegar. Além disso, são suas anotações mensais, iniciadas desde o começo do programa, que permitem o controle do crescimento da propriedade.

No segundo ano, o produtor parte para o melhoramento genético do rebanho. Depois de alimentar corretamente e levantar as informações sobre o desenvolvimento dos animais, ele descarta seus bois e suas vacas improdutivas, renovando seu rebanho. Isso pode ser feito por meio de compra de novos animais ou através de inseminação artificial. Sidnei Bezerra destaca que não vale a pena, para o pequeno produtor, manter animais que não aumentam sua renda, como bois e vacas fora de lactação.

“Os produtores têm sempre que ter em mente que não há necessidade de grandes galpões e cocheiras em suas propriedades, porque isso não aumenta a produção de leite, apenas dá status. No caso da Fazenda Trapiá, por exemplo, há uma estrutura natural, composta por árvores, que cumpre muito bem esse papel, pois é confortável para as vacas e é de graça. É isso que queremos mostrar para o produtor: ele pode aumentar a produção e melhorar sua vida com coisas muito simples, e não imaginando grandes tecnologias”, explica o zootecnista.

Na terceira etapa, o Balde Cheio promove a mudança na infraestrutura da propriedade. Isso acontece porque, à medida que o produtor vai crescendo, de acordo com seu planejamento, sua fazenda vai exigindo melhorias. “A partir daí, sim, deve-se pensar em outras instalações. Mas ele já produziu alimento, já sabe fazer silagem, já controla tudo o que acontece na sua propriedade. Agora, ele está consciente que o investimento que ele for fazer, nesse momento, vai trazer um benefício. É nesse ano que entram as máquinas, como as ordenhadeiras mecânicas”, esclarece Sidnei.

Já no quarto ano, o foco passa para a qualidade do leite. “No início da metodologia, a preocupação com a qualidade do leite fica em segundo plano, porque o mais importante é produzir comida para alimentar o rebanho. Mas aí, depois de todas essas etapas, você forma um técnico com uma visão de um sistema de produção que dá resultado, independentemente da região que ele esteja, independentemente do sistema de produção utilizado. É, então, que a qualidade do leite passa a ser primordial para o produtor”, complementa o profissional.

Marcos Fontes, gerente adjunto da Unidade de Agronegócios do Sebrae Alagoas, destaca que, a cada 11 minutos, um produtor de leite no Brasil abandona a atividade por falta de competitividade, ou seja, por não conseguir produzir com custo baixo, que lhe permita ter lucro.

“Para a maioria dos produtores, é muito difícil produzir um volume que lha garanta uma boa renda mensal e, principalmente, com a qualidade requerida pelo mercado e pela legislação. Com o Balde Cheio, proporcionamos ao produtor a capacidade de se tornar competitivo, permanecer na atividade e viver com dignidade a partir da renda obtida com a produção de leite. E é assim que o Sebrae cumpre sua missão de promover a competitividade das micro e pequenas empresas, inclusive as rurais”, afirma o gerente.

Exemplo

Os resultados da Fazenda Trapiá, uma das unidades demonstrativas do Balde Cheio em Jacaré dos Homens, são exemplo para os produtores da região. Em uma área de 3,4 hectares, Elias Francisco de Oliveira, dono da propriedade, passou de uma produção de 8.517 L/ha por ano, antes do programa, para 11.552 L/ha, depois da implantação da metodologia.

Sua maior produção diária chegou, com o programa, a 180 L, com nove vacas em lactação, gerando uma médica de 12 L por dia cada uma. Com relação à qualidade do leite, Sr. Elias também não fica para trás. Na Contagem Bacteriana Total (CBT), a legislação permite até 750 mil bactérias por ml de leite, enquanto o leite do produtor tem uma contagem de, em média, 99 mil. Já sua Contagem de Células Somáticas (CCS), que também tem máximo de 750 mil por ml pela legislação, é de, em média 33, 142 mil.

“O Balde Cheio, para nós, foi uma escola. Melhoramos em tudo desde que o programa foi implantado. Aprendemos a alimentar o gado, a controlar nosso rebanho e a, principalmente, planejar. Quando começamos, fazíamos 70 L de leite por dia, achando que estava bom. Queria chegar a 100 L de leite, mas a zootecnista disse que ainda era pouco, que podíamos sonhar mais alto. Sonhei em produzir, estourando, 150 L. Hoje, tiramos 180 L por dia, algo que nunca pudemos imaginar. Quero chegar aos 200 L, só pra começar”, comemora o produtor Elias Francisco.

“Tudo isso está acontecendo aqui por conta de uma única coisa: planejamento. Cada produtor tem que estabelecer um lugar aonde quer chegar e trabalhar em cima disso. Aqueles produtores que estão sem acompanhamento dos técnicos, ou que não seguem suas recomendações, não sabem o que vai acontecer no dia de amanhã, mas aqueles que planejam alcançam os objetivos. O Elias e todos esses outros produtores estão de parabéns pela evolução que tiveram, pois eles conseguiram mais do que dobrar a produção, em propriedades pequenas, mesmo em época de seca”, complementou Sidnei Bezerra Lima.

Por fim, o zootecnista lembra que a ideia do programa é profissionalizar o produtor, fazer com que ele encare a propriedade como empresa, como negócio. “Mas, para isso, tem que trabalhar sério, com compromisso, porque, se fizer o que tem que ser feito, o resultado é alcançado”, finalizou.

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