18/06/2012 11h32

Apiário Princesa das Matas, em Viçosa, inova e cria sistema ‘gavetão’ na Casa de Mel

Fazenda Pedras de Fogo diversifica e investe na produção de mel além da criação de gado

Apiário se destaca na produção de mel

Marcela Sampaio/Sebrae-Alagoas

Em 2000, quando assumiu a fazenda que havia pertencido a seu avô e a seu pai, o engenheiro agrônomo Pedro Acioli resolveu diversificar a produção, além da criação de gado, e apostar na apicultura como atividade produtiva mais forte. Nesta última matéria da série que destaca micro e pequenas empresas alagoanas que desenvolvem práticas sustentáveis, conheceremos o Apiário Princesa das Matas, em Viçosa, Alagoas.

Pedro sabia que precisava investir capital para que a produção de mel na Fazenda Pedras de Fogo desse certo. O problema era que os recursos disponíveis eram escassos, então ele teve que colocar em prática suas atitudes empreendedoras. Em visita aos manejos no Ceará, que mesmo em uma região muito seca deram certo, ele absorveu algumas ideias e inovou em alguns aspectos para dar o próximo passo.

Foi quando ele decidiu construir uma Casa de Mel na sua propriedade que recebesse o Selo de Inspeção Federal (SIF). Além de ser um diferencial de mercado, o SIF certifica o produtor a comercializar com todo o Brasil. Para garantir o selo, a casa deveria atender às exigências do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Entretanto, os altos custos da “estrutura ideal” obrigaram Pedro a estudar o mercado e a buscar estratégias para baratear a construção, mantendo-a eficiente.

O projeto apresentado ao Mapa tinha como características o baixo custo e tecnologia adaptada, porém funcional e com qualidade. Além da centrífuga, decantador, peneiras e mesa desoperculadora (para retirar o produto dos chamados “quadros” – onde as abelhas ficam e produzem o mel), Pedro adaptou algumas necessidades: o clorador, utilizado para tratar a água, foi construído pelo próprio empresário através do modelo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa); a torneira com acionamento no pé, para não contaminar as mãos, também foi montada por Pedro.

Mas a grande inovação na Casa de Mel foi o sistema “gavetão”, idealizado pelo empresário e já repercutido em todo o Brasil. Para evitar a contaminação dentro da casa, os funcionários puxam uma gaveta para fora do espaço e depositam apenas os quadros, e não as melgueiras completas, porque elas são sujas e podem conter ainda muitas abelhas. Assim, uma segunda pessoa, já dentro da casa, puxa a gaveta de volta e retira os quadros para desoperculação.

“Esse processo diminui bastante a contaminação do mel, porque não entramos com as melgueiras dentro da casa. Tomamos todas as preocupações necessárias para levar o produto com a maior qualidade possível ao consumidor. Para isso, construímos um espaço que contém todas as exigências dos órgãos reguladores, especialmente com relação à higiene. O mais interessante é que conseguimos reduzir em 60% o custo da estruturação, pois adaptamos muitas tecnologias”, explica Pedro Acioli.

Como resultado de sua ideia inovadora, o Apiário Princesa das Matas foi o vencedor do Prêmio MPE Brasil 2011, etapa estadual, na categoria “Inovação Tecnológica”. “Foi uma surpresa para nós, pois concorremos com empresas diretamente ligadas à tecnologia. Isso prova que podemos criar estratégias eficientes e, principalmente, acessíveis ao pequeno produtor”, diz.

Sustentabilidade

“Não existe apicultura sem reflorestamento, porque tem que haver produtividade; quanto mais árvores, mais abelhas. Dessa forma, a atividade já é, por si só, sustentável. As abelhas são polinizadoras naturais, o que facilita o florescimento das plantas e árvores”, continua Pedro.

Pensando na continuidade da sua produção e, claro, na preservação ambiental, o empresário realizou um estudo apibotânico, identificando quais as árvores que poderiam servir de alimento para as abelhas. Assim, em uma área reservada na propriedade, ele plantou árvores de sabiá, mulungu, juá e ingá, contribuindo para o aumento da mata. Em 12 anos, oito mil árvores já foram plantadas.

Outra preocupação de Pedro é fazer um trabalho de repovoamento da abelha uruçu, que está em extinção devido ao desmatamento. Segundo o apicultor, o sabor do mel produzido por elas é mais amargo e, por conta do alto teor de água, ele fermenta com facilidade. Entretanto, por ser mais difícil de ser encontrado, ele é mais valorizado.

“Enquanto a abelha apis, com a qual nós trabalhamos, rende de 40 a 50 kg por colmeia/ano, a abelha uruçu produz apenas 1kg no mesmo período. Nosso objetivo, agora, é criar mais enxames e mais famílias para repovoarmos as nossas matas com esse tipo de abelha”, explica.

Mas Pedro faz um alerta: as práticas sustentáveis têm que trazer algum retorno financeiro para o empresário. “É ilusão acreditar, pelo menos atualmente, que as pessoas vão deixar de ganhar dinheiro para preservar o meio ambiente. O agricultor vai deixar de desmatar se vir o filho com fome? Não vai. Tem de haver um trabalho de conscientização, que faça com que ele desmate e refloreste logo em seguida”, opina.

Para divulgar as suas práticas, Pedro quer transformar sua propriedade em um apiário escola. Hoje, ele já oferece cursos e treinamentos para os produtores e para quem se interessar pelo seu trabalho, orientando as pessoas desde o reflorestamento, passando pela produção de mel até o envase.

E Pedro não para por aí. Por ser engenheiro agrônomo, ele está em constantes estudos para desenvolver melhores práticas de produção. “O agricultor precisa entender de manejo. Depois de algum tempo de pesquisas, descobri que em cada região do nosso estado, Semiárido, Zona da Mata e Litoral, a produção de mel se dá em períodos diferentes. Se o agricultor tiver esse conhecimento, ele poderá manejar suas colmeias para cada região no período favorável, e sua produção, que antes era sazonal, passa a ser durante todo o ano. Publicarei esse estudo em breve, e isso ajudará os produtores que necessitam de mais conhecimento”, complementa o empreendedor.

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